sexta-feira, 29 de maio de 2009

Mulheres de Aço e Flores


"De aço e de flores. O aprimorado da vida insiste em nascer dos contrários. As mulheres sabem mais sobre isso. Elas experimentam na carne o destino de serem como Deus, em pequenas partes. Geram o mundo; embalam os destinos e entrelaçam num mesmo tecido as cores da fragilidade e da força. Elas são de aço. Elas são de flores"

" (...) ao contrário de tantos religiosos que se fecham para o mundo, padre Fábio convive com os problemas humanos, o que lhe dá uma dimensão mais ampla da vida e, porque não dizer, armas mais eficientes para nos abençoar com ternura.

(...) embora sua convicção religiosa seja de aço, a maneira como conversa, aconselha e participa de nossas vidas é suave.

Mais fascinante que tudo é não se tratar de um livro religioso.

Não é religioso na medida em que não se propõe a divulgar a fé, e que pode ser lido e interessar ao leitor de qualquer crença. Mas expressa uma compreensão que só alguém voltado para as questões internas do ser humano é capaz de ter.

É maravilhoso sentir como padre Fábio ama o ser humano (...). Ler este livro é como receber um abraço."

(Walcyr Carrasco)

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TRECHOS

" O que tenho é quase nada, mas seguro com as duas mãos".

"O amor completa os espaços. Supre a carência, suplanta os temores".

"Uma vida inteira sem flores não é nada diante de uma única primavera florida!".

"O que faz a diferença no mundo é o jeito como olhamos para ele".

"Juventude não tem paciênciq para lavagens demoradas. É por isso que o povo anda encardido demais. É só ar uma olhada nos colarinhos dos apressados".

"Eu sou feita de assombros. Descubro o tempo todo o avesso da pergunta. Deus me livre de duvidar! Há um jeito mais interessante de manter a incredulidade sob controle".

"Eu não sei onde mora a raiz da mágoa. O que sinto é a sua ardência na alma".

"O que conheço do amor é sua pressa. De chegar e de partir."

"O amor tem o poder de dispersar a timidez".

"O amor tem o poder de prolongar as distâncias. Os passos perdem a pressa. Chegar não é o mais importante. O encanto está no ir. Um ir eterno, sem destino, sem tréguas. Um chegar que não chega nunca".

"O amor faz esquecer as ofensas"

"O amor ainda é a forma mais aprimorada de oração".

"O amor tem o poder de apagar o passado".

"Fico intrigada com essa história de que Deus tenha disposição de enxergar pavios de velas acesas. E o pior, ter de sabwr a razão de cada uma delas. Eu confesso que isso fragiliza ainda mais minha capacidade de crer em Deus. Imaginá-lo assim, necessitando de pavios acesos para que tenha gestos de bondade, ou pensar que ladainhas em reto tom em tardes de domingo possam agradar-lhe os ouvidos é quase uma afronta à minha inteligência."

"Passo na porta de Igreja e já sinto um arrepio na espinha quando ouço aquela lamúria desafinada. Não posso acreditar que exista alguma sacralidade naquele acontecimento".

"O amor sobrevive é de intervalos".

"O intervalo faz rebrotar a primeira paixão, o primeiro encontro. Faz nascer a saudade, o elemento que mensura o amor. Amor que não sofre de saudade desanda, perde a consistência".

"O sabor está nas passagens. O definitivo é cansativo demais. (...) Tudoo que não muda nos condena, nos condiciona. O bom da vida é saber que passa. Um fim de tarde com toda a sua beleza não cabe no tempo. E por isso ele se vai. (...) A beleza está nos intervalos, nos espaços de luz em que a sombra já se mostra".

pg83


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ser leitor - Celso Antunes

Ser leitor
Celso Antunes

É muito importante ensinar uma pessoa a ler, e não deve existir nada mais gratificante para um alfabetizador que saber que é capaz de trazer luz a quem sempre viveu na escuridão do analfabetismo. Se é verdade que existem partos naturais e que, portanto, para vir ao mundo algumas pessoas dispensam a ajuda de outras, não é menos verdade que são raríssimas as situações de auto-alfabetização e, portanto, quem mostra os caminhos das letras jamais poderá ser envolvido pela dúvida sobre sua essencialidade como pessoa e sua grandeza como profissional. Todos que lêem necessitariam guardar com ternura e profundo afeto o nome e a memória viva daquele ou daquela que, em um dia remoto do passado, iniciou-os na monumental tarefa de transformar os símbolos em novos pensamentos. Pouco importa se alfabetizar é difícil ou fácil. O certo é que esse ato simboliza uma grandiosa tarefa, raramente exaltada.

Mas, tão importante quanto ensinar alguém a ler é fazer desse alguém um leitor.
E, nesse contexto, é necessário realçar as colossais diferenças entre "saber ler", isto é, decifrar a mensagem simbólica expressa pelas sílabas e palavras e "formar um leitor" e, assim, induzir o indivíduo que está aprendendo a ingressar no misterioso universo do pensamento de outra pessoa — o autor — para com esta compartilhar pensamentos, aceitando-os ou negando-os.

A verdadeira significação de um texto escrito jamais se encontra na palavra e no pensamento do escritor e nem mesmo na fria compreensão de seu leitor, mas na interação que pode surgir entre estes quando estimulada por pensamentos diferentes navegando em torno de idéias comuns e, dessa forma, transformando palavras mortas em pensamentos vivos. Um texto, para o verdadeiro leitor, não tem significado similar ao que apresenta para uma pessoa simplesmente alfabetizada, pois, para esta, existe a finalidade que se completa com a aquisição da idéia escrita, enquanto, para o leitor, existe um aprimoramento visual, quase tátil, para descobrir aquilo que está nas linhas e entrelinhas do texto que foi pensado pelo autor. O verdadeiro leitor é sempre capaz de retirar o texto da esfera real para, ao decifrar o universo de seus segredos, incluí-lo no contexto de um diálogo reflexivo, em que vivências diferentes, do autor e do leitor, contextualizam-se em simbologias não necessariamente iguais. O que está escrito por Paulo pode ser o mesmo que está escrito para Mário, mas o que é verdadeiramente lido por Paulo não pode ser o mesmo que é lido por Mário, uma vez que o verdadeiro leitor traz para o contexto de sua vida, de seu entorno e de suas emoções as referências que conquistou no texto. Em síntese, para um texto produzido existem milhares de leituras possíveis.

Mas, se é essencial que haja alfabetizadores, não nos parece menos essencial que existam professores que façam de seus alunos verdadeiros leitores, levando-os a descobrir a diferença entre a decodificação de uma palavra e os pensamentos que esta pode assumir quando interage com o universo de idéias pessoais que cada verdadeiro leitor carrega. Ler "O cachorro é bonito" pode significar apenas uma informação sobre uma particularidade desse animal, mas pode também simbolizar todas as associações com os cães que povoam nossa imaginação e passado e toda a dimensão da beleza que, pouco a pouco, a vida nos levou a construir. Mas, se mostrar aos alunos a diferença entre ser "capaz de ler" e "ser um verdadeiro leitor" é importante, mais ainda é praticar inúmeras vezes a experiência de se compartilhar leituras e, por suas estruturas, um quase e novo aprender a caminhar, descobrindo segredos, percebendo desafios, identificando atalhos. E essa prática não ocorre acidentalmente nesta ou naquela aula, neste ou naquele momento em que se fez surgir a oportunidade, mas na progressiva construção interior do próprio professor em saber que é um "construtor de leitores" e, sensibilizado por essa descoberta, fazer de cada oportunidade, de cada notícia, de cada frase ou tema um exercício de caminhada e de desvendamento.

Tão importante quanto fazer de um aluno um verdadeiro leitor e, portanto, tão importante quanto se sensibilizar pela grandeza dessa missão é percebê-la literalmente interdisciplinar e, dessa forma, praticá-la com frases, mensagens e textos desta e daquela disciplina, até mesmo para que o aluno progressivamente perceba que cada ciência ou arte possui forma peculiar de leitura.

Ler uma frase como um leitor autêntico é descobri-la com olhos educados e a visão educada de um geógrafo é diferente da de um biólogo ou de um historiador, assim como olhar uma paisagem ao amanhecer com olhos não educados é essencialmente diferente de aprender a olhá-la com os olhos de Van Gogh ou Picasso.

sábado, 2 de maio de 2009

Trecho - Quem me Roubou de mim? - O Sequestro do corpo: a trama do esquecimento dos significados


(...)"Os significados qualificam nossa existência..."
(...)"Quando nos referimos aos significados, nós estamos tratando de realidades materiais e imateriais".
(...) "Uma solidão muito mais profunda, caracterizada como "ausência de si mesmo"".
(...) "O cativeiro é a negação do seu direito de ser e estar".
(...) "Identificar-se é um jeito que a pessoa tem de afirmar o que é, mas também um jeito de afirmar o que não é".