sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O livreiro - Monteiro Lobato




Entre os mais humildes comércios do mundo está o livreiro embora a sua mercadoria seja a base da civilização, pois é nela que se fixa a experiência humana.


O livro não interessa ao nosso estômago nem à nossa vaidade.


Não é, portanto, compulsoriamente adquirido.


O pão diz ao homem: "Ou me compras ou morres de fome".


O batom diz à mulher: "Ou me compra ou te acharão feia".


E ambos são ouvidos, Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque o próprio da ignorância é sentir-se feliz em si mesma como o porco em sua lama.


E, pois, o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.


Qualquer outro lhe daria maiores lucros, ele o sabe e heroicamente permanece livreiro.


E é graças a essa generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronteira.


Suprima-se o livreiro e estará morto o livro.


E com a morte do livro retrocederemos à Idade da Pedra transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre.


A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde perpétua a trêmula chamazinha da cultura.


==> Lindo, não???



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